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Por Clara Kutner

 

Lucas pergunta: por que o trombone? 

A resposta que está na origem da coreografia de SOM partiu da afinidade entre os bailarinos e a música. Como cada um sentia cada instrumento pra fazer sua coreografia? A tecnologia da vibração entrou como ferramenta musical do trabalho. Para entender essas conexões, quisemos que cada um dos instrumentos que escolhemos fosse percebido como uma melodia vibratória. Esta foi a primeira de nossas questões: é possível?

Logo nos primeiros encontros, ainda no ano passado, começamos a pensar na composição. Na ideia inicial da proposta de instalação, só teríamos um único ponto vibratório. Mas, nessa estrutura, a diferença entre a vibração de cada instrumento ficaria difícil de perceber  e por isso partimos para a separação da música em pontos diferentes.

A residência começou efetivamente em abril com a oficina “Dança com LIBRAS”. Criamos uma coreografia a partir de um texto que pensamos vendo a movimentação e o significado de alguns sinais escolhidos. Ali tivemos um encontro potente de troca de experiências relacionadas com a questão da linguagem da dança para os surdos, material fundamental para abrir os trabalhos.

Depois fizemos outra oficina, agora mais longa, de dança e música no INES. Juntamos um grupo de 20 participantes. Foi importante ver como os alunos, a maioria surdos e uma ouvinte, percebiam cada uma daquelas sonoridades: alfaia, cajón, baixo e trombone. A alfaia tem muita vibração, ela é facilmente percebida por via háptica, através da pele. Já o trombone é muito mais sutil: assim como o Lucas, ele tem um fluxo contínuo e lento, se expressa muito naturalmente dessa maneira. Fizemos uma mostra dessa criação coreográfica com música ao vivo no auditório do INES para os alunos da escola. Foi bonito...

Desde o edital, sabíamos que seria necessário criar essa interlocução pra entender mais sobre essa experiência sensível das vibrações nos nossos corpos. Agora vejo que toda essa busca se tornou em mim um desejo de conhecer mais e mais a cultura surda. Me aproximei de sua linguagem e de suas muitas possibilidades. Mas há muita coisa ainda pra descobrir, é um caminho profundo, fortemente ligado à questão da comunicação, assunto fundamental na ideia inicial da pesquisa. Enfim, vivemos em tempos de incomunicabilidade!

Pra fechar os dois meses da residência, filmamos e construímos a plataforma vibratória da instalação. Há muitas histórias desse percurso, que foi muito coletivo, de muitos laços.

Dedico SOM ao meu pai, ao Manu, ao Davi, e às parcerias. Evoé!

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